Tríduo em Memória aos 80 anos do Martírio de Santa Edith Stein

Neste ano, comemora-se o aniversário da morte de Santa Teresa Benedita da Cruz, sobre a qual já tivemos a oportunidade de conhecer um pouco no nosso Boletim 177 (edição de julho, agosto e setembro de 2022). No dia de 09 agosto fará exatamente 80 anos que Edith Stein morreu voluntariamente, com seu povo (os judeus), em uma câmera de gás, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.

Diante de tal fato, muitas são as reflexões possíveis. Porém, diante das dificuldades enfrentadas nos dias de hoje por toda a humanidade, creio ser importante repensar nossas atitudes e pensamentos em relação ao tema do martírio, do sofrimento. Para tanto, proponho aqui a realização de um tríduo no qual, juntos, poderemos refletir durante três dias sobre alguns aspectos relevantes desse assunto e, no quarto, comemorar a memória de Santa Teresa Benedita da Cruz, a partir de alguns pensamentos e considerações dela mesma em contraste com a realidade vivenciada atualmente.

Para a realização desses quatro dias de reflexão e oração, proponho a seguinte estrutura:

– Sinal da Cruz: Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

– Vinde, Espírito Santo: Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da Terra! Oremos: Deus que instruístes os corações dos Vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de Suas consolações, por Cristo, Senhor Nosso. Amém!

– Reflexão do dia.

– 1 Pai nosso: Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal. Amém

– 3 Ave Maria: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

– Glória: Glória a o Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; como era no início, é agora, e sempre. Amém.

– Sinal da Cruz: Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo; para que seja sempre louvado. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

06 de agosto de 2022 – A morte e o sofrimento são inevitáveis

Nos dias de hoje falar sobre a morte se tornou algo muito complicado, pois parece que as pessoas possuem certo medo dela e, por conta disso, preferem manter distância desse assunto. Mais complicado ainda é quando junto a ela se coloca a questão do sofrimento, do martírio. Muitos cristãos se esqueceram da importância desses meios essenciais pelos quais cada indivíduo pode atingir a santidade, por isso a Igreja Católica não cessa de pregar um Cristo ressuscitado, mas que antes disso foi martirizado, crucificado e morto. Nesse sentido, Edith Stein nos traz considerações muito ricas sobre as quais vale a pena refletir:

“A imagem do Salvador morto nos braços da Mãe dolorosa coloca diante dos nossos olhos o inevitável. A morte é o duro e merecido castigo pelos pecados, mas também é o fim do pecado; é o remate do trabalho para a nossa perfeição, a passagem para a vida eterna. Portanto, devemos não só aceitá-la em nosso interior como algo inevitável, como também esperá-la com alegria. Certamente, também devemos aceitar agradecidos o prolongamento da vida como meio para trabalhar mais ao serviço do reino de Deus e para uma glória maior” (STEIN, Edith. 3° Conferência: A morte. Caderno de Notas Pessoais. Exercícios – 1937. Obras Completas V, Ed. Monte Carmelo, p. 844-845, tradução livre).

Assim como a morte, o martírio, quando vêm ao nosso encontro, tem esse objetivo de nos purificar e moldar naquilo que Deus espera de nós. Se por um lado não devemos agir como masoquistas, vivendo em busca do sofrimento, por outro lado, quando este bate à porta não devemos recusá-lo, mas acolhê-lo, de modo semelhante a Jesus ao carregar sua cruz.

Santa Teresa Benedita da Cruz rogai a Deus por nós e ensine cada um a seguir o exemplo de Cristo!

07 de agosto de 2022 – A importância da vida de oração como meio de se aceitar o sofrimento quando ele é inevitável

No cotidiano, o ser humano possui muitas dificuldades e situações complicadas com as quais deve sempre lidar e, por vezes, torna-se muito custoso aceitar de bom grado o sofrimento quando este nos é inevitável. Há sempre uma forte tendência à resistência e, em muitos casos, opta-se por viver uma vida de ilusões pautada em um consumismo desenfreado ou em vícios que, além de não resolverem os problemas, podem criar outros ainda maiores.

Um meio eficaz de adquirir maior maturidade para se lidar com essas questões está na criação de intimidade com Aquele que nos conhece melhor que nós mesmos, ou seja, com Deus, e isso só é possível por meio da oração, do diálogo. É preciso conversar com o Criador constantemente, pois somente Ele pode nos oferecer os subsídios necessários para enfrentarmos as dificuldades frequentemente impostas em nossas vidas. Por vezes, não sabemos bem rezar e podemos correr o risco de pedir coisas das quais não precisamos em detrimento daquilo de que realmente estamos necessitados. Assim, será sempre válido levar em consideração algumas palavras de Edith Stein quando nos recolhemos para esse fim:

“Quando seus discípulos lhe pediram que lhes ensinasse a orar, Jesus lhes disse, por certo, tudo quanto é preciso para que o Pai Eterno nos ouça, e só lhes ensinou os sete pedidos do Pai-nosso, nos quais se incluem todas as nossas necessidades, espirituais e temporais; não tendo sido indicadas muitas fórmulas, palavras ou cerimônias. Ao contrário, em outras circunstâncias Jesus lhes disse que, quando orassem, não falassem muito, porque ‘nosso Pai celestial bem sabe o que nos convém’. Apenas recomendou que perseverassem na oração” (STEIN, Edith. A Ciência da Cruz: Estudo sobre São João da Cruz. Trad. D. Beda Kruse. 9 ed. Loyola: São Paulo, 2021, p. 89).

Santa Teresa Benedita da Cruz, rogai a Deus por nós e ensine cada um como proceder em suas orações!

08 de agosto de 2022 – O Processo de Aceitação

Após o reconhecimento de que o martírio, o sofrimento e a morte são inevitáveis na vida do cristão, resta-nos agora aceitar a pequenez humana frente às questões sobre as quais não temos pleno domínio e estar abertos à ação de Deus em nossas vidas para, unidos a Ele, podermos atingir aquilo que, apenas humanamente, é impossível de se conquistar.

A plena aceitação da vontade do Pai vai além de acolher as coisas boas ocorridas, é preciso ir além. Devemos ter uma postura semelhante à demonstrada por Jó (1, 21) “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor”. Trata-se do total desapego de si mesmo para viver o sonho de Deus. Tamanho ato de fé, por mais sofrido e dolorido que seja, tende a nos purificar interiormente e levar cada um a agir semelhantemente ao exemplo de Jesus Cristo, o qual com certeza nos ampara em todo esse processo, como bem lembramos ao abordar sobre a importância de se cultivar uma vida de oração saudável.

Em Edith Stein vemos uma postura muito madura em relação à aceitação do desconhecido e à entrega total à vontade do Criador. Em seu texto intitulado “Contribuição para Crônica do Carmelo de Colônia”, podemos encontrar as seguintes colocações feitas em relação aos diversos problemas enfrentados pelo povo judeu devido à ascensão do Nazismo na Alemanha:

“Eu falava interiormente com o Salvador e lhe manifestava a minha ciência de que era a sua cruz que o povo judeu começava a carregar. A maioria das pessoas não compreenderia isso, mas quem compreendesse devia aceitar essa cruz de bom grado em nome de todos. Eu queria aceitá-la, mas ele devia mostrar-me como fazê-lo. Quando terminou a oração, tive a convicção íntima de ter sido atendida. Contudo, eu não sabia ainda em que consistia esse carregar a cruz”.

Santa Teresa Benedita da Cruz, rogai a Deus por nós e ensine a cada um como aceitar sua própria cruz!

09 de agosto de 2022 – A Santidade

“O que é, então, um ser humano? É o ser que sempre decide o que ele é. É o ser que inventou as câmaras de gás; mas é também aquele ser que entrou nas câmaras de gás, ereto, com uma oração nos lábios”. (Viktor Emil Frankl)

Após esses três dias de reflexão, chegamos ao núcleo de nossa breve caminhada. Ao nos debruçarmos sobre essas temáticas, tivemos a oportunidade de refletir sobre alguns aspectos importantes para quem busca uma vida de santidade, os quais nos levam a perceber que “Mais eficiente do que a mortificação, que é exercida por livre escolha, é a cruz que Deus sobrepõe a alguém, exterior e interior” (Edith Stein).

Em Santa Teresa Benedita da Cruz temos mais um entre muitos exemplos de que não importa a situação a ser superada e as dificuldades a serem enfrentadas: almas verdadeiramente decididas e determinadas conseguem, sim, ser coerentes com os desígnios de Deus e somente elas podem lembrar toda a humanidade de que “o anúncio da cruz seria vão se não fosse resultado de uma vida unida ao Crucificado”, como bem nos lembra nossa fiel intercessora.

Nestes tempos complicados em que nos encontramos hoje, marcados por crises na saúde, na economia, nos meios religiosos, na política, na educação, nas questões ambientais e em diversos setores da sociedade sentimos a necessidade de novamente surgir uma geração de cristãos convictos em sua fé, como já ocorrera em outros momentos, os quais não tenham medo de enfrentar a vida como ela realmente se apresenta, firmados nas palavras do Evangelho, sem o uso de recursos paliativos, recorrendo aos exemplos dos santos e, principalmente, recorrendo aos cuidados do Criador, que não desampara seus filhos.

Sempre que o desânimo ou o medo bater à porta, lembremos as palavras de Frans Coriasco ao se referir à vida da beata Chiara Luce Badano “uma história de santidade não tem um final feliz, porque é uma história que não acaba nunca”.

Santa Teresa Benedita da Cruz, rogai a Deus por nós e ensine cada um como viver uma vida de santidade!

Viva Santa Teresa Benedita da Cruz!

Marcos Henrique de Lima

Seminarista na Diocese de Assis (SP)

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